quarta-feira, 22 de julho de 2020

Costados do soldado Tomás de Sousa Sardinha (Filho)

Costados do soldado Tomás de Sousa Sardinha (Filho)



    O que sabemos de Tomás de Sousa Sardinha (Filho) é que teve uma vida bastante agitada. Nascido no Rio de Janeiro, em Itaboraí, em finais do XVII (cir 1694), casa-se na Sé da capital fluminense, em 20 de julho de 1716, com Páscoa Maciel de Figueiredo, ela natural da Colônia do Sacramento e que segue com a família para o Rio possivelmente quando da expulsão dos portugueses da "Praça da Colônia", pós Tratados entre as Coroas Portuguesa e Espanhola. Pelo batismo de um dos filhos (Teresa a 8 de novembro de 1738) sabemos que Tomás era soldado. Parte do Rio de Janeiro em meados do XVIII, parece ter se estabelecido por algum tempo em Paranaguá, no Paraná, mas em 1752 ja encontra-se morador no Desterro (Florianópolis/SC)1. A finais da década de 1750 já se encontra no RS, em Viamão (aparecem nas lista dos confessados de Viamão a partir de 1756), onde irá morar até o fim da vida. Tomás morre em 31 de outubro de 1774 ("com mais de 80 anos") e sua esposa em 3 de maio de 1778.
    Vanessa Campos, arquivista do Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre realizou um estudo sobre um dos filhos de Tomás, o primogênito Inácio de Sousa Maciel Sardinha, escrivão do juízo eclesiástico de Viamão entre 1756 e 17612. As informações genealógicas sobre os antepassados de Tomás no estudo de Vanessa Campos tem origem na pesquisa de João Simões Lopes Filho, a partir de seu blog3. As minhas prendem-se também à mesma fonte: ao blog e, ao menos no meu caso, também pelo generoso envio de mensagens particulares contendo alguns elementos de uma possível ascendência de Tomás, a partir de Rheingantz4.
    A partir de uma recente "descoberta": os arquivos disponibilizados pelo "Endangered Archives Programme"5, da British Library, contendo muitos livros eclesiásticos do Rio de Janeiro (entre outras muitas regiões do Brasil e da América Latina), foi possível localizar o casamento dos pais de Tomás em Itaboraí e avançar uma geração em sua ascendência, além de corrigir algumas informações que tínhamos sem fonte precisa (como o óbito do Tomás, o pai) e algumas pistas iniciais. Esperamos que a identificação de mais uma geração torne possível localizar a família junta a algumas obras clássicas, como As Primeiras Famílias do RJ, de Rheingantz, assim que delas pudermos ter algum acesso. A investigação nos "Endangered Archives Programme" é muito inicial e poderá trazer-nos ainda melhor frutos. Por enquanto, o que temos é o que segue.

Primeira Geração


1. Soldado Tomás de Sousa Sardinha (Filho) nasceu em torno de 1694em Itaboraí , RJ (São João). Ele morreu em 31 de outubro de 1774, em Viamão - RS.


Tomás casou-se com Páscoa Maciel de Figueiredo filha de  Pascoal de Figueiredo e de Susana Rodrigues Maciel em 20 de julho de 1716 no Rio de Janeiro-RJ (Sé). Páscoa nasceu na Colônia do Sacramento (Uruguai). Ela foi batizada em 21 de janeiro de 1700 na Colônia do Sacramento.Ela morreu em 3 de maio de 1778 em Viamão - RS.


Second Generation


2. Tomás de Sousa Sardinha (pai) nasceu em torno de 1655. He morreu antes de 11 de fevereiro de 1728. Ele casou-se com Bernardina de Sena (do Sacramento) em 18 de outubro de 1688 em Itaboraí (São João Batista), RJ.

            

            A hipótese que tínhamos, por troca de mensagem pessoal com João Simões Lopes, era a de que Tomás de Sousa Sardinha (pai) seria filho possivelmente de um homônimo, Tomás de Souza que em 5 maio de 1678 casou-se, em São Gonçalo-RJ, com uma Maria Sardinha (filha de Hipólito Vaz e de Agueda da Silveira; testemunhas/padrinhos: Manuel Fernandes Jacinto e Manuel Rodrigues português). As datas, os sobrenomes (dele e da esposa) e as localidades corroboravam a hipótese. No entanto, a nossa surpresa foi a de descobrir que aquele Tomás do matrimônio de 1678 era não o pai, mas o mesmo de 1688, agora viúvo casando-se com Bernardina de Sena.
    Outro erro desfeito foi a data do óbito que tínhamos de Tomás de Sousa Sardinha, em 1755 (sem referências). Ao encontrarmos o batismo de um escravo de Bernardina de Sena em 1728, vimos que  Bernardina já era viúva: Pedro, filho de Micaela 'do gentio da Guiné', escrava de Bernardina de Sena, viúva, batizado aos 11 do mês de fevereiro de 1728. Foi madrinha Anna de Sousa e não teve padrinho. Finalmente, localizando o testamento de Bernardina vimos que o óbito de 1755 era o dela, não o dele. Além disso, a mesma escrava é citada no testamento, recuando o óbito de Tomás (o pai) para antes de 1728.

Além de seu primeiro casamento com Maria Sardinha ter sido em São Gonçalo, ao menos dois irmãos de Tomás (pai) também são batizados em São Gonçalo:

- Maria, b. 10.11.1647 (padrinhos: Gracia de Gusmão e Francisca M.or. [Moreira?]).

- Francisca, b. 06.08.1649 (padrinhos: Roque de Aguiar e Maria Tinoca.).

        Isso nos leva a supor que Tomás também era natural de São Gonçalo.

Importante notar, entre os padrinhos das irmãs de Tomás (pai) os nomes de Gracia/Garcia Gusmão, Maria Tinoca/Tinoco e de Roque de Aguiar. Garcia de Gusmão e Maria Tinoco são casados, ele com origem em São Paulo e radicado no Rio de Janeiro6, Maria Tinoco é mãe de uma Joana de Sousa, para quem  deixa terça em testamento (em 1662), além de deixar bens para uma neta de nome Maria7. No mesmo testamento refere-se a um Francisco Alves como "seu compadre". Tudo indica que são os mesmos Francisco Alves, pai de Tomas (pai), Joana de Sousa mãe de Tomás (pai) e Maria, afilhada de Garcia Gusmão - lembramos que Maria Tinoca é comadre de Francisco Alves através da filha (dele) Francisca, acima citada. Gracia/Garcia Gusmão, na verdade Garcia de Gusmão Moniz, morre em 1657 e deixa como testamenteiro a mulher Maria Tinoco e Roque de Aguiar, mesmo e incomum nome daquele padrinho de Francisca junto com Maria Tinoco. Garcia de Gusmão também deixa à afilhada Maria, filha de Francisco Alvares, uma quantia em dinheiro. No entanto, cabe notar que Garcia de Gusmão Moniz morre sem filhos, portanto a filha de Maria Tinoco será de um casamento anterior. Maria Tinoco deixa ainda como herdeiro um neto, Sebastião de Sousa, à época morador na Bahia, que poderá ser um irmão ou primo-irmão de Tomás (pai) - como não são citados outros filhos no testamento de Maria Tinoco, além da filha Joana, supomos que de fato seja um irmão de Tomás (pai).

Padrinhos do casamento de Tomás e Bernardina:  Antônio Lobo da Cunha, Antonio Roiz Pereira, Maria Leitoa e Marta da Costa.


3. Bernardina de Sena do Sacramento nasceu em torno de 1675. Ela morreu em 9 de junho de 1755 em Itaboraí (São João Batista), RJ.



Alguns dados importantes extraídos do testamento de Bernadina de Sena:

Os testamenteiros são os sobrinhos (além do Capitão Gregório Freire de Brito):

--Pedro Rodrigues Maciel, também seu afilhado.

--Manoel Luiz Pereira

É interessante notar que a sogra de Tomás de Sousa Sardinha (filho), Susana Rodrigues Maciel, tem os mesmos sobrenomes do primo acima, sobrinho e afilhado de sua mãe): é possivel supor que haja uma ligação entre Tomás e a esposa, o que explicaria também a escolha da família da esposa de ir para o Rio de Janeiro ao sair da Colônia do Sacramento.


O testamento também cita uma nora, Michaela Rangel, já identificada anteriormente, e uma neta, também indentificada, Francisca das Chagas.


O testamento cita que Tomas de Sousa Sardinha (pai) e Bernardina tiveram onze filhos, cinco dos quais estavam vivos quando de sua escritura, a saber:


                    - Tomas de Sousa Sardinha
                    - Hieronima de Sousa
                    - Francisco de Sousa
                    - Antonia, casada com Domingosda Silva Porto
                    - Joana Maria, solteira

                    Sobre a filha Antonia: encontramos um índice de batizados (apenas a letra A), em que está listado o assento:

Dezembro de 1702, tendo como padrinhos: Domingos Rodrigues e Francisca Pereira (pelos sobrenome possivelmente parentes de Bernardina, como vemos pelos sobrenomes de seus sobrinhos citados no testamento)

Bernardina foi amortalhada no hábito de Sâo Francisco e sepultada na porta principal da Igreja de São João Batista, em Itaboraí, com as missas de corpo presente e os legados de costume (capelas de missas, etc).


Terceira Geração


4. Francisco Álvares .Francisco casou-se com Joana de Souza.Francisco morre antes de 17 de dezembro de 1672.


5. Joana de Souza, morre em São Gonçalo, RJ, a 17 de dezembro de 1672.

Joana de Souza morre em São Gonçalo a 17 de dezembro de 1672, viúva. No testamento diz ser pobre, natural de São Gonçalo, casada que foi com Francisco Álvares, do qual ficaram onze filhos. Deixa por testamenteiro o filho Manoel de Souza. Solicita doze missas para suas devoções (Santíssimo Sacramento, a morte e paixão de N. S. Jesus Cristo, ao Arcanjo S. Miguel e à Virgem da Piedade).

6. João Braz Leitão .João casou-se com Clara Tavares.


7. Clara Tavares .

Quarta Geração (Hipótese)

10. O primeiro marido de Maria Tinoco


11. Maria Tinoco




.NOTAS

1 Boletim da Ilha Terceira. Vol XI, 1953.  p. 124:
"SARDINHA— Tomaz de Souza
Morador do Destêrro em 1752."

2 CAMPOS, Vanessa G. "De corpo e alma: a materialidade da escrita e a subjetividade autógrafa". Dissertação de Mestrado, UFSM, 2009

Sabemos que Ricardo da Costa Oliveira também escreveu sobre a família de Tomás, em seu O Silêncio dos Vencedores, mas não tivemos acesso à obra:
OLIVEIRA, Ricardo Costa de, O Silêncio dos Vencedores, 2002

4 RHEINGANTZ, Carlos G., Primeiras Familias do Rio de Janeiro


6 BOGACIOVAS, Marcelo M. "Monizes e Gusmões na Capitania de São Vicente", Revista da Asbrap n. 14, pp 137-164.

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